La vita é bela

Spleen outonal ?…será que vivemos numa farsa constante…onde está o bom senso dos « homens evoluídos » que somos ??…
Deriva moral, social, financeira…Visto de fora… (pois não faço parte do corpo docente) por um lado uma ministra da educação que, sob a nobre intenção declarada de melhorar a qualidade do ensino através de uma avaliação consistente dos professores mostrou-se uma aluna exímia do nº1, pois travou a subida na carreira e limitou o acesso dos professores a vencimentos mais elevados, o que representa uma economia notável para o governo, e por outro lado, professores que, querendo ser mais « royalistes que le roi » apressaram-se a cumprir as ordens, zelaram, reuniram, esforçaram-se, para dar forma à tal avaliação e que agora, presos na ratoeira, finalmente reagem e querem que a ministra volte atrás....anular tão bela conquista ? nem pensar…
Jogos de influência, luta sem mercê para o poder... no partido de oposição francês, discursos frente às câmaras que se querem apaziguadores, unificadores, pois é o «profundo desejo dos militantes e da sociedade, ter um partido forte e unido para combater a política do Sarkozy» e nos bastidores, candidatos que se digladiam para aceder ao «trono».
Políticos completamente gastos, sem ideias, que se agarram aos postos e aos privilégios como a um galho por cima de um precipício. .
Desacreditados, julgados, acusados, não interessa - estão ai…incrustados e intocáveis...
cada vez mais cinzentos, mais velhos…e patéticos…
Sim, não há dúvida, nesta mediania, embora não seja «Deus» (cf. «nem Deus, nem Mestre!»), o sentido de humor e o ar fresco do Obama são saudáveis e agradáveis de ver..
Jean d'Ormesson, também, apesar da sua idade (nasceu em 1925) e do seu grau de académico consagradíssimo (membro da Academia francesa desde 1973), poderia inspirar muita gente.. olho vivo de um azul penetrante, a que fazem eco a subtileza, a vivacidade, o sentido de humor, a simplicidade dos seres inteligentes…
A língua francesa falada por ele é deliciosa, melódica, bela!!!
Jean d’Ormesson, que, apesar da sua posição de topo, escreve coisas como estas:

« Résistez. Résistez aux séductions moutonnières de la médiocrité, à l'ignominie des retournements intéressés, aux murmures de la lâcheté qui ne recule devant l'effort que pour se trouver tout à coup, mais trop tard, acculée à la tragédie. Résistez. Résistez. Gardez par dessus-tout l'amour de la liberté et votre sens critique. Combattez par l'ironie des indignations trop légitimes. Combattez par l'espérance un pessimisme trop justifié ».
(Le Figaro Magazine- 4/07/81- Lettre ouverte à F.Mitterrand)

«Je n'écris, pour ma part, ni un roman ni des Mémoires. J'essaie de comprendre le peu que j'ai fait et comment tout cela s'est emmanché. Je n'écris pas pour passer le temps ni pour donner des leçons. Je n'écris pas pour faire le malin ni pour ouvrir, comme ils disent, des voies nouvelles à la littérature. Pouah! Je n'écris pas pour faire joli ni pour défendre quoi que ce soit. J'écris pour y voir un peu plus clair et pour ne pas mourir de honte sous les sables de l'oubli.» (Qu'ai-je donc fait - Éditions Robert Laffont, 2008)

Numa das suas últimas participações a um convívio literário, lembrou o poeta Aragon..., exímio em «manejar» as palavras e em torná-las belas e poderosas, e lembrou esta frase do poeta : «Et malgré tout, la vie est belle» !

Cellophane